Para tentar explicar o significado desta sagrada língua milenar,
que é o Sânscrito, quero pegar emprestado o texto de uma grande amiga e grande
estudiosa da filosofia do Yoga: Yogacarini Shivasankari. O texto é um trecho de
sua apostila "A Origem do Yoga":
Samsktam ( = Sânscrito)
A língua usada nos Vedas e na maior parte da literatura Hindu é o
Sânscrito. O Sânscrito é considerado uma língua cósmica e dito ser ressonante
com o som que vibra no Universo. Devanãgari significa "Escrita dos
Deuses" e é o nome no qual os caracteres na língua Sânscrita são escritos.
Todos os sons e palavras do Sânscrito são ditos serem cheios de
luz e profundo significado e ressoam com a Realidade Cósmica. Isso se deve a um
aspecto da língua Sânscrita no qual toda palavra é conectada com o seu
significado; palavra e significado a um certo nível são em verdade a mesma
coisa. Esse conceito chama-se Nama e Rupa (nome e forma), onde todo nome tem
uma forma e toda forma tem um nome ou som.
As línguas comuns que conhecemos foram criadas pela cognição e
condicionamento de certos objetos com certos sons, os quais foram essenciais
para nossa interação com o mundo objetivo. Objetos foram chamados por certos
nomes porque em certo ponto da linha do tempo e espaço foi decidido que certo
som seria bom para ser utilizado para nomear um objeto em específico, a mente
então é capaz de sempre que vê esse mesmo objeto o reconhecer por esse nome
específico.
Uma das diferenças entre o Sânscrito e as outras línguas, segundo
os mais tradicionais, é que o Sânscrito tem relevância vibracional entre o nome
e objeto e não é apenas fruto de uma convenção humana.
A ciência moderna já nos tem provado que não existe tal coisa como
matéria sólida. Todo objeto material é feito de átomos e todo átomo consiste de
um núcleo positivamente carregado ( contendo prótons e tipicamente também
nêutrons) e rodeado por elétrons negativamente carregados. O núcleo que foi
considerado ser a menor partícula mais sólida é hoje confirmado ser nada mais,
nada menos que energia muito concentrada. Einstein há muito tempo já nos dizia
através de sua fórmula E=mc² ( energia é igual à massa vezes a velocidade da
luz ao quadrado) que todo este Universo é formado única e exclusivamente de
energias que vibram em diferentes frequências nos dando como resultado a
percepção de diferentes objetos.
Tudo aquilo que vibra consequentemente produz um som. Nós, como
seres humanos limitados pela percepção do mundo através dos nossos sentidos,
podemos escutar apenas frequências que se encontrem dentro do valor médio de 20
a 20000Hz. Dentro das escrituras Hindus encontramos o termo Nada que significa
a vibração primordial,fonte de toda criação. Segundo essa cultura, Deus ou a
Pura Consciência, encontra-se ainda além da manifestação da vibração, no
entanto esta, sendo a mais sutil das vibrações é o mais próximo que chegaremos
dessa Realidade Não Manifestada. A importância do Om é que este som, este
símbolo representa o último vestígio da razão humana, no qual toda a manifestação
está contida, é a forma de Deus em sua forma ainda racional e menos
personalizada possível. Em muitas religiões se ouve falar de que toda criação
emanou a partir do som ou do verbo. No caso do Hinduísmo este som primordial é
denominado Om, som presente no momento da criação e ainda contínuo e vibrante
em todo o Universo.
Os mantras, ou palavras em Sânscrito são ditos serem tão
poderosas, pois diferente das línguas comuns, os nomes dados aos objetos foram
percebidos e não criados. Sendo assim os mantras tem um poder natural de
invocar o objeto, e o inverso também é válido, a partir de intensa concentração
é possível extrair o nome ou vibração condizente com o objeto.
Valmiki
Esse
fenômeno é contado em uma história bem conhecida na literatura hindu a respeito
do santo Valmiki:
Um
dia quando Narada Rsi (uma deidade cósmica) andava pela floresta um ladrão o
parou e tentou roubar pertences e dinheiro. Narada então lhe questionou:
-Por
que você maltrata e abusa de pessoas inocentes? Você não se sente mal por isso?
Não se sente envergonhado?
-Eu
o faço porque tenho família e filhos para sustentar. Preciso alimentá-los,
precisamos sobreviver e não me sinto envergonhado pois eles precisam de mim -
respondeu o ladrão.
-E
você acha que eles não se importam com a maneira cruel que usa para
sustentá-los? Acha que eles não se importarão em dividir as consequências de
seus maus atos?
O
ladrão prontamente imaginou que seus filhos e sua esposa não se importariam em
dividir as consequências de seus atos, já que também dividiam com ele a comida
e dinheiro que lhes levava.Um ponto de dúvida ainda o incomodava e ele decidiu
ir para a casa e perguntar para sua família a respeito.
Chegando
lá ele lhes contou do ocorrido, e se deu conta de que sua família não se
importava com a forma na qual ele lhes arranjava o sustento. Ele sendo pai e
chefe de família tinha a obrigação de lhes sustentar, e a família certamente
não dividiria as consequências de suas ações.
Decepcionado
ele voltou à floresta em busca do Rsi Narada e lhe implorou que o ajudasse a se
livrar de toda a culpa e se purificar. Sendo o ladrão um ignorante, repleto de
raiva contra sua família o ladrão não era capaz de pensar em algo puro e sublime
e Narada pensou em como poderia ajudá-lo. Ele o instruiu a se concentrar
repetidamente no som Mara (morte) até que todos os seus maus atos fossem
purificados. Com determinação e persistência ele sentou-se de pernas cruzadas e
por longos anos se concentrou:
-Mara
Mara Mara Mara Mara Mara Ma Ra Ma Ra Rama Rama Rama Rama Rama...
Ele
repetiu e repetiu até se esquecer de sua família, se esquecer de sua vida,
esquecer do mundo e até se esquecer de si mesmo, tão longo foi o tempo em que
permaneceu sentado em intensa concentração que um formigueiro cobriu seu corpo
inteiro. Ele por fim se purificou, e entendeu a Realidade Cósmica através do
nome de Rama, encarnação do Senhor Visnu. Sua consciência tornou-se tão elevada
que se tornou um santo, um sábio, um Rsi e teve uma visão divina sobre a
história de Rama e escreveu o livro chamado Ramayana. Esse Rsi ficou conhecido
como Rsi Valmiki, o Rsi que foi coberto por um formigueiro.
Ajamila
Em
Sri Mad Bhagavatam existe uma história sobre Ajamila, um homem que foi capaz de
escapar da morte.
Ajamila
era um Brahmin correto que conheceu uma mulher e se perdeu em prazeres banais
tornando-se um homem fútil e mundano, esquecendo-se completamente do conceito
de Dharma.
Ajamila
teve dez filhos com essa mulher, de todos eles o caçula era seu favorito, seu
nome era Narayana. Ajamila era extremamente apegado a essa criança, e não era
capaz de pensar em qualquer outra coisa se não em seu filho caçula. Passando
todo o seu tempo desta forma e completamente envolvido com sua esposa, Ajamila
nunca percebeu que estava se tornando velho e que a morte lentamente se
aproximava. Quando o momento de sua morte chegou todos os seus pensamentos e
ações estavam em torno de seu filho. Ajamila viu a distância os mensageiros de
Yama (Senhor da Morte) se aproximar. Viu que seu filho brincava no jardim dos
fundos e com a voz já a falhar suplicou que o filho viesse até ele:
"Narayana!" - ele chamou. E assim ele morreu.
Neste
exato momento serventes do Deus Narayana, ouvindo seu chamado, vieram resgatar
Ajamila o mais rápido possível. Eles viram os mensageiros do Senhor Yama
arrastarem a alma do corpo de velho Brahmin. O serventes de Narayana lhes
disseram que aquela alma pertencia a eles, pois no momento da morte Ajamila
chamou o nome de Narayana, desta forma era dever deles que o levassem até Ele.
Os
mensageiros explicaram que Ajamila era um homem mundano que não cumpria o seu
Dharma, apegado a coisas fúteis e passageiras. Na hora de sua morte ele chamava
em realidade o nome de seu filho, e de forma alguma havia pensado no nome de
Deus. Desta forma Ajamila não poderia ir aos planos celestiais após a morte,
logo era seu dever levá-lo ao plano de Yama.
Vendo
toda essa confusão acontecer o Senhor Yama resolveu vir pessoalmente resolver o
problema. Ele explicou aos seus mensageiros que tamanha era a determinação de
Ajamila em chamar o nome de Narayana ao morrer que agora sua alma de fato
pertencia ao senhor Narayana, pois o nome não é uma palavra vazia, mas a
presença e força do Deus Narayana reside em seu nome.
Como
ilustrado nestas histórias, o Sânscrito é cheio de força e vida, os Mantras são
mensagens da realidade Suprema que foram postas de maneira audível através dos
Rsis. Os Vedas, assim como a língua Sânscrita são sons ou mensagens audíveis
dessa realidade mais sutil, e por isso os Rsis que as revelaram são
considerados apenas seus transmissores e não seus autores, e os Vedas são
aceitos como não tendo início ou fim, pois apesar da sua existência escrita ter
tido um início, sua origem real é eterna.
Esse é o Texto da apostila da Re Gabi? É muito lindo e profundo.
ResponderExcluirSim Fê!! Eu faço referência à ela e a apostila dela " A Origem do Yoga" no começo do texto. Lindo né? Adoro este texto também ;-)
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