"...O homem é aquilo que pensa; servidão ou libertação estão em sua mente. Sentir-se aprisionado é estar aprisionado. Sentir-se liberto é estar liberto. As coisas lá fora nem o aprisionam nem o libertam; somente sua atitude perante elas faz isto..."
Quando a palavra Yoga é mencionada, muitas pessoas pensam imediatamente
em algumas posturas físicas para relaxar e tornar flexível o corpo. Este é um
dos aspectos da ciência yogi, mas na verdade é só uma pequena parte e
relativamente recente em seu desenvolvimento. O Yoga físico, ou Hatha Yoga, foi
inicialmente concebido para facilitar a verdadeira prática do Yoga, a saber, a
compreensão e o domínio completo da mente. Portanto, o verdadeiro significado
de Yoga é a ciência da mente.
Todos nós queremos saber mais sobre nossas mentes: como funcionam e como
trabalhar com elas.Esse campo é mais próximo de nós do que qualquer outra coisa
na vida. Saber como consertar um carro, preparar uma refeição ou como dividir
átomos pode ser interessante e útil. Mas, para pessoas atentas, o que chama
logo sua atenção é sua própria mente. O que é a mente? É ela que determina o
nosso comportamento e a nossa experiência ou somos nós que a criamos e
sustentamos? O que é a consciência? Podemos nos voltar para dentro de nós
mesmos para estudar, compreender e mesmo controlar a mente? Este é o tema
central da antiga ciência do Raja Yoga.
Tradicionalmente, a palavra Yoga em si refere-se ao Raja Yoga, a ciência
da mente. Atualmente, com o crescente interesse pela expansão da consciência e
pela ciência da mente em geral, é natural que voltemos para a antiga ciência do
Raja Yoga. Existem, é claro, muitas abordagens ocidentais ao estudo e controle
da mente, cada qual promovendo vários conceitos e técnicas diferentes. Mas
comparada a elas, a antiga ciência Yogi representa um grande ancestral. Por
milhares de anos os yogis vêm investigando os mistérios da mente e da consciência,
e podemos muito bem descobrir que alguns de seus achados aplicam-se também às
nossas próprias pesquisas.
O texto primário de Raja Yoga é chamado de Yoga Sutras de Pantanjali (às
vezes de Patanjala Yoga Sutras ou Yoga Darsanam). Sutra significa literalmente
"fio", cada sutra sendo o fio condutor que o professor deve expandir,
adicionando "contas" de experiência, exemplo, etc. em benefício dos
estudantes. São quase 200 sutras que expõe ensinamentos relacionados ao
autoconhecimento, filosofia do Yoga, as
partes que se divide a Raja Yoga, os benefícios, os obstáculos para a sua
obtenção e os meios de transpor tais obstáculos, as conquistas que acontecem ao
praticante sincero e samadhi.
Não se sabe exatamente quando Patanjali - chamado de Maharishi, que quer
dizer grande sábio - viveu. Estima-se que a data dos Sutras varia entre 5000
a.C. e 300 d.C. Em todo caso, Patanjali não foi o "inventor" do Raja
Yoga, mas sistematizou, compilando idéias e práticas já existentes. Desde então
tem sido considerado o "Fundador do Yoga" e seus sutras, a base para
toda uma variedade de tipos de meditação e Yoga, que florescem hoje numa
míriade de formas.
É dito por grandes estudiosos da filosofia do Yoga que o segundo sutra de
Patanjali, por si só, já seria o suficiente, pois todos os sutras restantes
apenas o explicam. É deste que vamos falar hoje:
YOGASCITTAVRTTINIRODAH
Yogas= Yoga; citta= da substância mental; Vritti= alterações; nirodhah=
contenção
A tradução é:
O aquietamento das ondas mentais é Yoga.
Neste Sutra, Patanjali apresenta-nos o objetivo do Yoga. Se a
contenção das alterações mentais for alcançada, a pessoa terá atingido o
objetivo do Yoga. Toda a ciência do Yoga é baseada nisto. Patanjali apresentou
a definição do Yoga e, ao mesmo tempo, a prática. "Se você puder controlar
as ondulações da mente, você vivenciará o Yoga."
Discutiremos agora o significado de cada palavra do Sutra. Em geral, a
palavra Yoga é traduzida como "união", mas uma união necessita de
duas coisas a serem unidas. Neste caso, o que se unirá a quê? Assim,
consideramos Yoga significando, aqui, a experiência Yogi. A extraordinária
experiência alcançada através do controle das ondas mentais chama-se Yoga.
Chittam é a soma total da
mente. Para ter uma imagem completa do que Patanjali quer dizer com a palavra
"mente", você deve saber que dentro do chittam há diferentes níveis. A mente básica é chamada ahamkara ou o ego, o sentimento do
"Eu". Isto faz surgir o intelecto ou faculdade de discernimento que é
chamada buddhi.Outro nível é chamado manas, a parte da mente que deseja, que
sente atração pelas coisas exteriores através dos sentidos.
Por exemplo, você está tranquilamente sentado apreciando a paz da
solidão, quando um cheiro agradável vem da cozinha. No momento em que manas percebe, "Estou sentido um
cheiro agradável vindo de algum lugar", buddhi raciocina, "Que cheiro
é este? Acho que é queijo. Que bom! De que tipo? Suíço? Sim, é queijo
suíço." Assim, uma vez que buddhi decida, "Sim, é um delicioso pedaço
de queijo suíço, como aquele saboreado na Suíça no ano passado", ahamkara
diz, "Oh, então é isto? Então devo comer um pedaço agora." Estas três
coisas acontecem uma de cada vez, mas tão rápido que raramente as distinguimos.
Estas alterações dão origem ao desejo de comer o queijo. Criou-se o
desejo, e a não ser que o satisfaça indo até à cozinha e comendo o queijo, sua
mente não retornará à condição original de paz. Está criado o desejo,
consequentemente a vontade de satisfazê-lo, e, uma vez que o satisfaça, você
estará de volta à sua original situação de "paz". Esta é a condição
natural da mente. Mas estes chitta vrittis, ou as alterações da substância
mental, pertubam esta paz.
Todas as alterações mentais têm origem nas diferenças recebidas do
mundo exterior. Por exemplo, imagine-se não tendo visto seu pai desde que você
nasceu e que ele retorne quando você tem dez anos. Ele bate à porta. Abrindo-a,
você vê um rosto estranho. Corre para sua mãe, dizendo: "Mamãe, há um
estranho lá fora." Sua mãe vai à porta e vê o marido que esteve longo
tempo ausente. Com toda alegria ela o recebe e apresenta-o como seu pai. Você
diz: "Oh, meu pai!" Poucos minutos antes, era um estranho; agora,
tornou-se o seu pai. Transformou-se em seu pai? Não; é a mesma pessoa. Você
criou a idéia do "estranho" depois transformou-se em "papai",
só isto.
O mundo exterior é todo baseado em seus pensamentos e atitudes
mentais. O mundo inteiro é apenas sua própria projeção. Seus valores podem
mudar na fração de um segundo. Hoje você pode não querer mais ver alguém que
foi seu querido amor de ontem. Se nos lembrarmos disto, não sofreremos tanto
com as coisas que nos rodeiam.
É por isto que o Yoga não se incomoda muito em mudar o mundo exterior.
Há um ditado sânscrito que diz: "Mana
eva manushyanam karanam bandha mokshayoho." "O homem é aquilo que
pensa; servidão ou libertação estão em sua mente." Sentir-se aprisionado é
estar aprisionado. Sentir-se liberto é estar liberto. As coisas lá fora nem o
aprisionam nem o libertam; somente sua atitude perante elas faz isto.
Sri Swami Satchidananda dizia à
prisioneiros: "Todos vocês sentem-se prisioneiros e esperam ansiosamente
transpor estes muros. Mas olhem para os guardas. Não são parecidos com vocês?
Eles também estão entre os muros. Mesmo que possam sair à noite, todas as
manhãs vocês os vêem aqui de volta. Eles adoram entrar aqui; vocês adorariam
sair. A clausura é a mesma. Para eles não é uma prisão; para vocês é. Por que?
Há alguma mudança nestes muros? Não, vocês sentem que é prisão; eles sentem que
é um lugar para trabalhar e ganhar seu salário. É a atitude mental. Se, ao
invés de aprisionamento, pensarem neste lugar como um reformatório que lhes dá
uma oportunidade de mudarem sua atitude diante da vida, de reformarem e
purificarem a si mesmos, adorarão estar aqui até que se sintam purificados.
Mesmo que lhes digam: "Seu tempo acabou; podem ir", poderão dizer:
"Ainda não estou purificado, senhor. Quero ficar aqui por mais algum
tempo." De fato, muitos destes prisioneiros continuaram a levar uma vida
yogi mesmo após deixar a prisão, e até mesmo foram gratos por sua vida na
prisão. Isto significa que eles compreenderam bem o que lhes foi dito.
Assim, se puder ter controle sobre suas formas de pensamento e conseguir
modificá-las como quiser, você não será escravizado pelo mundo exterior. Não há
nada errado com o mundo. Você pode transformá-lo num céu ou num inferno de
acordo com sua vontade. É por isto que o Yoga é todo baseado no chitta vritti nirodhah. Se você tem
controle de sua mente, você tem controle de tudo. Assim, nada neste mundo
poderá aprisioná-lo.
Este texto foi retirado do livro "Os Sutras do Yoga de Patanjali - Tradução e Comentários por Sri Swami Satchidananda" e foi adaptado por mim em alguns pequenos trechos, somente com o intuito de facilitar o entendimento.
Namaskar!
Este texto foi retirado do livro "Os Sutras do Yoga de Patanjali - Tradução e Comentários por Sri Swami Satchidananda" e foi adaptado por mim em alguns pequenos trechos, somente com o intuito de facilitar o entendimento.
Namaskar!
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